“Querido,
Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer.
Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que depositei em você toda minha felicidade. Você sempre foi paciente comigo e realmente bom. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais.
Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.
V."
Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer.

Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.
V."
Esta é a nota de suicídio de Virginia Wolf, uma célebre autora inglesa que deixou obras realistas maravilhosas como “Noite e dia” e “Flush”. Virginia tornou-se um pouco mais famosa no mundo depois do sucesso de “As horas”, romance de Michael Cunningham que foi belamente adaptado para o cinema. Neste filme (estrelado por Nicole Kidman, Meryl Streep e grande elenco), o autor entremeia características de uma personagem de Virginia, a saber “Mrs Dalloway” com a história de outras mulheres em épocas e realidades diferentes, sempre em um recorte muito subjetivo e existencialista. Virginia Wolf se matou em 28 de Março de 1941.